Uma cirurgia de alta complexidade foi realizada no Brasil com o intuito de separar gêmeas siamesas. As garotinhas em questão, Mel e Lis, eram ligadas pelo crânio e foram separadas por uma equipe de médicos do Hospital da Criança, em Brasília, Distrito Federal. Ao todo, o procedimento durou cerca de 20 horas e contou com 36 etapas até a separação definitiva das gêmeas.
A cirurgia em questão foi a primeira do tipo realizada no Distrito Federal. A nível nacional trata-se do terceiro procedimento do tipo. Quando se considera o mundo todo, é apenas o décimo. Isso se deve ao fato de que gêmeos siameses unidos pelo crânio – ou gêmeos craniópagos – são raríssimos, conforme foi apontado pela Secretaria de Saúde.
Após o procedimento, Mel e Lis permaneceram internadas por algum tempo, de modo que o seu estado de saúde pudesse ser monitorado de perto. Entretanto, na última terça-feira (21), Mel teve alta da UTI. Lis, por sua vez, continua na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital da Criança de Brasília, de acordo com informações fornecidas pelo avô das garotas. Ela, porém, está bem de saúde.
Atualmente, Mel se encontra no apartamento da enfermaria. Edilson Neves, o avô das crianças, ressalta que isso pode ser considerado um avanço em relação a momentos anteriores.
As garotas nasceram em junho de 2018. Do seu nascimento até a realização do procedimento, passaram-se alguns meses. Todo o tratamento necessário, assim como a cirurgia (que ainda contou com a assistência de médicos estrangeiros) foi realizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Apesar do tempo transcorrido, Mel e Lis voltaram a ser comentadas recentemente após se reencontrarem no hospital. Desde que foram separadas cirurgicamente, as meninas estavam internadas na UTI, mas ainda não haviam se visto. Ao todo, transcorreram 24 dias entre o procedimento e o reencontro.
De acordo com a mãe das crianças, Camila Neves, quando Mel chegou no quarto para visitar a irmã, as gêmeas se olharam como se estivessem se reconhecendo. O avô, bastante emocionado com o reencontro das pequenas, ressaltou que as duas pareciam perceber que a sua “outra metade” estava presente. Durante o reencontro, as pequenas se tocaram várias vezes e se mostraram felizes. Também era possível perceber a satisfação estampada no rosto de Camila ao ver as filhas juntas.
Durante o seu período separadas na UTI, Mel e Lis tiveram a companhia de bonecos para que não dormissem sozinhas. Entretanto, de acordo com Camila Neves, elas pareciam sentir falta uma da outra. Camila também relatou que elas se procuravam durante os 24 dias que passaram separadas.
Pelos motivos expostos, o encontro entre as gêmeas foi muito significativo para a família. Edilson relatou que o momento do reencontro foi bastante único e que ele se sente grato por tê-lo presenciado. De acordo com ele, foram meses de oração e de fé por parte da família e isso tornou o momento em que Mel e Lis se viram novamente o mais feliz de todo o processo de separação das garotas.
O avô das gêmeas ressaltou que Lis ainda precisa de alguns, de modo que esse é o motivo para que ela ainda não tenha ido para a enfermaria, como Mel. Entretanto, a expectativa é que em breve ela possa ir para o mesmo quarto que a irmã.
Sobre as demais partes do processo de recuperação das filhas, Camila relatou que as gêmeas aprenderam tudo o que sabiam enquanto ainda estavam unidas pela cabeça. Dessa forma, todas as atividades cotidianas, como andar, por exemplo, precisaram ser reaprendidas por elas e isso fez com que elas voltassem a ser bebês, ainda que estejam próximas de completar um ano. Camila ainda aproveitou a ocasião para elogiar a força das filhas, que seguem enfrentando os desafios que são colocados em seu caminho.
A respeito da parte clínica, Benício Oton de Lima, o neurocirurgião responsável por acompanhar toda a evolução das gêmeas, relatou que todos os procedimentos realizados daqui para a frente envolvem apenas a troca de curativos. Os procedimentos cirúrgicos foram encerrados com a plástica necessária para reconstruir a cabeça das meninas o local em que estavam unidas. Benício também afirma que Mel começará a fisioterapia imediatamente, mas que Lis ainda precisa de alguns cuidados diários para conseguir concluir a sua recuperação.
É seguro dizer, entretanto, que as partes mais complexas já estão no passado das gêmeas. Conforme foi ressaltado pela equipe médica responsável pela cirurgia, não existia nenhuma espécie de veia, artéria ou membrana de revestimento do sistema nervoso no local pelo qual as gêmeas eram unidas.
Entretanto, os médicos apontaram que houve uma pequena perda de massa encefálica durante a separação de Mel e Lis, mas que devido a pouca idade das garotas, espera-se que isso não chegue a afeta-las. Embora não seja possível assegurar que nenhum dano neurológico seja causado em decorrência dessa perda, a equipe se sente confiante em uma recuperação completa.