Atualmente, estima-se que existam mais de seis mil espécies de anfíbios em todo o mundo. Dessas espécies, é possível encontrar 800 no Brasil. O grupo em questão, composto por sapos, rãs e pererecas, se destacam pela pluralidade apresentada na espécie.
Como se já não fosse bastante curioso os anfíbios possuírem hábitos noturnos, eles ainda encontram outros jeitos de chamar a atenção de estudiosos e demais curiosos. Dessa forma, alguns atraem olhares pela maneira como utilizam a vocalização, produzindo sons diferenciados, enquanto outros, por exemplo, são alvos de câmeras fotográficas de admiradores da natureza por sua coloração.
Porém, no caso da família de sapos conhecida pelo nome científico Leptodactylidae, a característica física que destaca a espécie frente às demais é bastante incomum. Afinal, trata-se de sapos musculosos, verdadeiros anfíbios halterofilistas. O porte físico dos sapos em questão se deve ao período reprodutivo da espécie e ocorre exclusivamente nos machos, que se tornam “bombados” nessa época de suas vidas.
Conforme informações fornecidas pelo biólogo Willianilson Pessoa, a hipertrofia muscular – o inchaço que daria a aparência musculosa aos sapos -, acontece devido aos hormônios. Esses hormônios, por sua vez, estão associados à mudança de umidade no ambiente, assim como ao PH do ar e da água, que pode ser influenciado pelas chuvas.
Pessoa também relatou que essa alteração não é apenas estética, mas possui funções ligadas à sobrevivência e à própria reprodução. Nesse sentido, de acordo com o biólogo, a hipertrofia muscular ajuda os sapos no amplexo, ocasião em que o macho dá uma espécie de “abraço” na fêmea e fertiliza os ovos deixados por ela. No que tange à sobrevivência, Pessoa relatou que a hipertrofia pode ajudar em situações de brigas com outros machos.
Além disso, se mostra válido destacar que os “músculos” do sapo, na verdade, são formações estruturais localizadas em seu peitoral e mãos. Essas estruturas, por sua vez, possuem o nome de excrescência nupcial e estão situadas em regiões estratégicas, uma vez que o peito e as mãos do sapo são as áreas que entram em contato com a pele da fêmea durante o processo de reprodução dessa espécie.
Willianilson Pessoa também aponto que como a pele dos anfíbios é bastante escorregadia e úmida, essas estruturas se mostram bastante interessantes do ponto de vista evolutivo. Isso se dá uma vez que elas permitem que o macho não caia de cima da fêmea no momento da reprodução e, assim, o processo possa ser concluído.
Entretanto, ao contrário do que algumas pessoas podem pensar, a aparência adquirida pelos sapos em questão durante o seu período reprodutivo não é algo permanente. Trata-se somente de um recurso utilizado durante essa época, de modo a facilitar a aderência do macho ao fecundar os ovos deixados pela fêmea, mas, com o passar do tempo, os “músculos” se deterioram e desaparecem depois de um tempo.
Em território nacional, é possível encontrar os sapos halterofilistas em diversos biomas, incluindo locais urbanizados.
Se essa curiosa espécie curiosa de anfíbios é de fácil observação, outras espécies tão interessantes quanto podem não ser tão fácies assim de encontrar. Entre essas, é possível destacar os sapos dotados de chifres. Tal espécie, do gênero Ceratophrys¸ é nativa de biomas como a Caatinga, a Amazônia e a Mata Atlântica, além de poder ser encontrada em pontos específicos do Pantanal.
O gênero Proceratophrys, por sua vez, se encontra melhor distribuído. Entretanto, é pouco provável que eles se façam presentes em centros urbanos, uma vez que vivem em serapilheira de florestas, além de precisarem de riachos para se reproduzir.
Ambas as espécies de sapo supracitadas são bastante comuns no Brasil. Elas se destacam por apresentarem espécies de extensões de pálpebras, que são conhecidas como apêndices palpebrais. O que torna esses apêndices bastante curiosos é a sua aparência similar a um chifre.
Essa característica pode ser encontrada tanto nos machos quanto nas fêmeas. Embora tais estruturas não possuam uma função específica no corpo dos sapos, elas são capazes de auxilia-los no que tange à camuflagem. De acordo com Willianilson Pessoa, os apêndices palpebrais fazem com que os sapos em questão possuam uma forma completamente assimétrica, que quando somada à sua coloração totalmente uniforme, faz com que esses sapos se tornem praticamente indetectáveis no ambiente. O biólogo também destacou os Proceratophrys boiei são donos das maiores extensões de pálpebras.
Renata Fadel, bióloga e herpetóloga, também relembrou as espécies pertencentes ao grupo Rhinella margaritifera, que são conhecidas por apresentarem cristas altas. Conforme informações fornecidas por Fadel, tais animais têm taxonomia bastante complexa em decorrência da presencia de diversas espécies crípticas, que são isoladas entre si do ponto de vista reprodutivo, mas possuem as mesmas características morfológicas ao longo de sua diversa distribuição. Dessa forma, são agrupadas em uma espécie de “complexo de espécies”.
Nesse sentido, Renata Fadel explicou que tais espécies podem ser vistas no solo de algumas florestas de várzea e também em terra firme cuja cobertura seja espessa de serapilheira. Além disso, elas também podem ser observadas em áreas abertas da Amazônia boliviana, no Brasil, na Colômbia, no Equador, na Guiana Francesa, no Peru, no Suriname e na Venezuela.